Já em 2005 eu ingressava no PPG Letras – Estudos Literários e investia em pesquisas sobre a construção da identidade nacional, derivadas da tese O Brasil presente. Meu primeiro projeto valeu-me, inclusive, recursos e bolsista de IC, num edital para recém-doutores, então chamado “enxoval”.
Esse primeiro projeto propunha três perspectivas, uma das quais intitulava-se “Os modos da margem”:
A pesquisa pretende ser um desdobramento de dois trabalhos anteriores do professor:
O livro Literatura de subtração, que busca compreender a ausência de traços ideológicos, coletivistas, ou mesmo utópicos na ficção brasileira das três últimas décadas do sec. XX, e a tese Doutorado O Brasil presente: construções-ruínas do imaginário nacional contemporâneo (defendida na Puc-Rio em 2003), que aborda a representação da identidade nacional tomando como perspectiva a contraposição entre obras de ficção literária desta “literatura de subtração” e outras criações, tais como a fotografia de Sebastião Salgado, a filmografia de Walter Sales e o cancioneiro de Caetano Veloso.
Dessa forma, a pesquisa atual pretende aprofundar as questões da tese, nas três seguintes perspectivas:
Os modos da margem – para compreensão das tensões entre diferença cultural e identidade nacional, propõe-se investigar as estratégias de inserção/afirmação de grupos através das representações da marginalidade, associadas à construção do imaginário social, desde o momento da contracultura pós-tropicalista, passando pelos “poetas marginais” da década de 70, até a presença da violência urbana, encenada pelo crime e pelo banditismo na ficção de autores como Rubem Fonseca, João Gilberto Noll, Patrícia Melo, e Paulo Lins, em que se vê enfraquecida a noção de pertencimento.
O não-lugar e o não-autor – análise de como a crise de identidade das grandes cidades do mundo globalizado, cada vez mais caracterizadas por não-lugares (segundo conceito de Marc Augé), passa a ser expressa como uma crise de identidade subjetiva e, especialmente, autoral. Este tópico se evidencia em romances como O manuscrito, de Edgard Teles Ribeiro, ou Budapeste, de Chico Buarque. Além disso a abordagem desse tema também conduz a uma reflexão teórica sobre a crise de identidade como reflexo da popularização dos meios de reprodução digital, que permitem outras formas de circulação/distribuição da criação artística, desestabilizando, não só o mercado de produtos culturais, mas também a própria noção de autoria.
Recentes imagens do Brasil – em contrapartida aos textos literários listados nos itens anteriores, a pesquisa mapeará como algumas das últimas produções cinematográficas brasileiras demonstram certa tendência a dialogar com a tradição histórica e cultural brasileira. Desde a década de 90, que foi o período conhecido como o do renascimento do cinema nacional, vêm surgindo produções representativas da questão nacional como Carlota Joaquina, princesa do Brasil, de Carla Camuratti; Central do Brasil, de Walter Salles; Caramuru, a invenção do Brasil, de Guel Arraes (originalmente mini-série televisiva); Brava gente brasileira, de Lúcia Murat. Estes filmes, entre outros, serão estudados com vistas a compreender as relações da recente cinematografia com a tradição literária brasileiras.
Embora tenham resultados em bons trabalhos de IC os tópicos 2 e 3 acima não renderam tanto quanto “os modos da margem”. Esse título me acompanhou ao longo de grande parte de minha vida de pesquisador e, já em 2006, ganhava uma especificidade de olhar sobre a literatura produzida nas periferias urbanas.