43- Sete tópicos – caminhos prospectivos

Como prometido, muito tempo atrás, no capítulo que intitulei um memorial precoce, apresento sete tópicos, que dão um valor prospectivo a pesquisa sobre criação poética e ficcional na esfera acadêmica.

Eles serão objetos de meus próximos projetos de pesquisa em iniciação científica por, pelo menos, os próximos quatro anos.

Sete pontos de uma proposição teórica (esboço)

1. Desdobradura subjetiva
O crítico hermeneuta transforma-se num crítico erótico. A produção de significados desdobra-se em produção de corpos nos corpos da língua e dos suportes. Rigor sem a rigidez das fórmulas e responsabilidade sem amarras dos comprometimentos seriam a condição sine qua non para o trabalho da criação literária em regime acadêmico.

2. Sociabilidade do produto
A pesquisa estética resulta em trabalhos cuja maleabilidade rompe os círculos esotéricos da produção científica ou acadêmica. Para além da leitura por pares, leitores ímpares da sociedade podem ter a retribuição social do investimento público. A narrativa, o poema, o ensaio na heterogênese preceptora do diálogo.

3. O lugar da autoridade
Mecanismos de instituição da autoridade do autor impõem-se contra o discurso autoritário do especialista. A pesquisa vai ao encontro de estratégias para não ocupar o lugar do (autor) morto e dinamizar o ato da leitura. Não pode se tratar de uma formação puramente técnica para aparelhar o escritor profissional. A sociedade brasileira não permite formar escritores que não estejam engajados na formação de leitores.

4.Desierarquização de discursos e formas
O texto-objeto, que não descarta o sujeito, proposto em função de seus objetos e objetivos. Longe dos projetos naturalistas, uma nova compreensão do romance-tese. O ensaio cuja linguagem se coloca à altura do próprio tema. O panfleto, o blog, o livro, a fala, o vídeo, o canto, o disco, a performance. No lugar de Literatura stricto sensu, a dinâmica das artes verbais.

5. Insistência da crítica
Contra a multitarefa e a sociedade do cansaço, uma performance que redimensione a noção (e a obrigação) do desempenho. A certeza de que o pensamento, como trabalho transformador dos meios materiais, requer ócio, contemplação e vazio. A escrita criativa não cabe nas práticas de mais-valia intelectual.

6. Rediagramação das pautas políticas
O logos, o tecido linear do argumento racional parece perder a eficácia. Na sua rigidez reivindicatória reproduz a própria estrutura da história dos vencedores e do poder que se instaura, antes da ideologia, como imaginário. Para além do sentido missionário do fazer literário, a revitalização da existência pelos motores do desejo.

7. Permanência da mimese
A certeza de que a imaginação sempre esteve no poder obriga a repensar o discurso na sua relação com o mundo. Entre a analogia e a ironia, a escrita e sua performance continuam requerendo dos autores a capacidade de calibrar a tensão da semelhança e da diferença que estabelecem com os referentes.

Discuti-los será, com toda certeza, uma abertura de caminhos futuros.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *