44- Professor e orientador

Norteou a fatura desse memorial uma espécie de evocação de mestres. Não exatamente no sentido acadêmico, mas mestres que o taoísmo me ensinaria a reconhecer como aquelas pessoas que nos aportam recursos e aprendizado na nossa trajetória, neste caso a minha trajetória profissional. São pessoas assimiladas mesmo como divindades. Falar de mim, torna-se, portanto, reconhecer o que cada um fez por mim. Falar dessas divindades é, no entanto, fazer uma eleição parcial, submetida ao fluxo da memória e da escrita, que fez com que todos os nomes aqui citados e não outros tenham comparecido.

Nesta eleição, talvez tenha havido, de minha parte, uma supervalorização dos laços de confiança quando se trata de ler originais. Com certeza há de se reconhecer que isso pode ser tratado apenas como uma conduta profissional, para a qual um código da ética seria suficiente. Assim o é no trabalho editorial ou no de orientações.

Não sei como transformar a enumeração curricular de 11 orientações em andamento e 25 orientações concluídas, em algo que se aproxime do que realmente significam cada uma dessas histórias. Nunca deixou de me assombrar o espanto, quando penso no acerto dos encontros ao longo de uma vida. O que se tornam para mim aqueles para quem eu pude ser recurso? Todos os trabalhos de orientação que empreendi se converteram em amizade, admiração, respeito.

Sou um sujeito de poucas palavras muitas manias e, por mais que a aparência possa enganar, arredio e refratário à vida social. Nunca consegui me entender com quem quer que seja, tête-à-tête, tão bem quanto o faço por meio de um texto que comento, oriento, critico. Descubro as pessoas nos seus textos e ao comentá-los dou o melhor de mim. A escrita é meu canal privilegiado de comunicação. Isso não é uma escolha, apenas a compreensão da minha naturalidade.

Não creio que o inventário, mesmo que temática ou formalmente comentado, das teses e dissertações que orientei (e oriento) seriam capazes de dar conta do que falo. Sim, há coerência e regularidade entre as linhas de pesquisa e as orientações. Algumas linhas de fuga não deixam de confirmar possibilidades do insuspeito, como orientar questões ligadas à cultura chinesa ou a ficção do queniano Ngugi wa Thiong’o. Tudo converge para afinidades eletivas que se explicam ao longo do próprio processo de aprendizagem mútua.

Na medida em que estruturo esse memorial, vou percebendo que conto uma história de parcerias, e uma canção, “Parceiros”, de Francis Hime e Milton Nascimento me vem à cabeça.

Contamos com a força de muitos
Colocando voz nesses olhos

Que chegam pra nos encantar.

E as vozes se tornaram tantas

Que não há mais palco e plateia

A gente que canta conosco

É o presente que deus nos legou

É parceiro

A gente que canta conosco

É a resposta que a vida mandou

Hoje ainda oriento teses na linha de pesquisa “Literatura, crítica e cultura”, e outras da nova linha, “Criação literária”. Pretendo dedicar-me, em breve, só à segunda, compreendendo essa naturalidade do caminho. Nada mais buscarei ou serei além do que eu sou.

De alguma forma, se algo de fato importante ou significativo acontece ou aconteceu durante o meu trabalho de docente e pesquisador até aqui, e que gostaria, fosse digno de um memorial, isso pertencerá à memória de alunos e alunas, que não posso escrever. Fico no meio entre os que vieram antes de mim e os que virão depois. “Estamos todos aí, estamos todos no meio”, como diz a canção de Arnaldo Antunes.

O trabalho de professor e orientador sempre se assemelhou, para mim, ao trabalho do ex-magico da Taberna Minhota, aquele conto do Murilo Rubião. Sempre tiro do bolso algo que não sei o que será. Essa mágica acontece porque há o outro, ali, diante de mim, e esforço-me para respeitá-lo como diferença, desconfiando sistemática e conscientemente do que sei, sabendo que corro sempre o risco de errar, ferir, ou afetar.

Esse trabalho, faço-o com um sorriso que os alunos notam. Em nome das pessoas que aqui vão citadas, meus orientandos de mestrado e doutorado, gostaria de homenagear igualmente todos os outros orientandos, de IC e Especialização, e os alunos para quem um dia fui recurso, ou, inadvertidamente feri ou afetei, mas com quem, com certeza, também aprendi.

André Luis Batista
Andressa Marques Pinto
Anelise Freitas
Beatriz Jobim Pérez Senra
Carolina de Oliveira Barreto
Célio Diniz Ribeiro
Fabrícia do Valle Arcanjo
Fernanda Fukushima Nascimento
Fernanda Pires Alvarenga Fernandes
Fernanda Vivacqua de Souza Galvão Boarin
Flávia Alves Figueirêdo Souza
Graziela Ramos Paes
Juliana Cristina Costa
Letícia Campos de Resende
Lia Duarte Mota
Ligia Gomes do Valle
Lúcia Helena da Silva Joviano
Luís Claudio Dadalti
Luiz Philip Fávero Gasparete
Luiz Rogério de Paula Júnior
Maria Cristina Weitzel Tavela
Marina Lima Monteiro
Marisa Aparecida Loures de Araújo Barros
Pedro Bustamante Teixeira
Raul Furiatti Moreira
Roberto Círio Nogueira
Talita Silva Schröder
Tatiana Franca
Tiago Horácio Lott
Vanessa Soares de Paiva

E os que virão.

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