Alexandre:
O seu livro me impactou demais. A mescla que você consegue fazer de lirismo amoroso e política (sem panfletismos boçais) é surpreendente. E num verso minimalista, contido, em que às vezes a expressão dos “estrondos que vão dentro do peito”, para citar Gregório de Matos, e da cabeça e do pulso e das veias, citando eu mesmo, cria uma tensão que chega a beirar o insuportável. O senso comum é virado de ponta-cabeça e arremessado como um aríete – ou míssil, para ser mais moderninho – contra a passividade do leitor, emparedado em sua bonomia ou em seus “ai, se eu te pego”.
Outra coisa que me parece surpreendente – no sentido mesmo de provocar surpresa, espanto, pasmo – é como você consegue conter a subjetividade nos limites de uma reflexão que não a suprime, antes a revela através de uma feição anticonfessional. E isto é outro grande aspecto de seu texto: conter a nossa tendência (digo nossa em termos de Brasil mesmo) à expansão esparramada do sentimento, o que pode desaguar em pieguismo aguado.
Ainda, completando um raciocínio apenas esboçado acima, como você consegue negar a positividade fácil de nossos arautos conformistas através de uma negatividade cáustica, apenas perceptível ao olho e ao ouvido atento. E como transforma essa mesma negatividade em outro elemento positivo que apenas prenuncia algo que é possível, como preliba o verso de Gonzaguinha: “eu sei, que a vida podia ser bem melhor e será…” Alguma coisa se gesta ali, nos seus poemas, que prenuncia grandes frutos. Ou, talvez, até os frutos sejam os próprios poemas, com seus ovos prontos a explodir suas gemas na cara do leitor.
Estes comentários estão longe de constituir uma leitura crítica dos poemas. São apenas comentários de quem saiu levitando da leitura.
Um abraço e obrigado.
Gilvan