40- Uma entrevista

De: João Camillo Penna
Em 12 de junho de 2016 04:00

Para: Alexandre e Beto

Caros,

O Beto já sabe, contei a ele na quinta quando estivemos juntos nos PACC. Coloco o Alexandre a par. Eis s história: Ettore Finazzi-Agrò, professor de literatura brasileira na Universidade de Roma, editor da revista de Letterature d’America, o Beto conhece porque já publicou um artigo lá, me convidou para escrever um ensaio de 15/20 sobre “Periferia(s)”, para um número dedicado ao tema “Periferia/subúrbio”, para outubro.

Como tenho mais ou menos uns 6 projetos encaminhados na minha mesa que não consigo terminar (o meu momento de vida não me permite muito tempo de trabalho), disse que não ia conseguir fazer, e ia recomendar o nome do Beto, quando eis que no ônibus para o Fundão na manhã de quinta me veio a ideia de, invés de um artigo (mais um) sobre o tema, fazer uma entrevista com vocês dois. Me explico: numa entrevista eu começaria perguntando sobre o lugar de fala de vocês dois, vocês falariam um pouco de sua história, a necessidade de começar por aí (já que do fato de ser uma pessoa que vem da periferia depende muito da especificidade da questão), e dos problemas que isso implica. Beto, eu sei, vem pensando sobre isso, ele mencionaria por exemplo a referência do artigo do Karl Erik, etc. Alexandre terá também seu modo particular de refletir sobre a questão. Vocês dois têm histórias bastante complexas, vêm ambos, digamos, da periferia, estudaram na PUC-Rio, lá se formaram (o que não é destituído de interesse), e são hoje professores concursados em universidade federais, com livros publicados, editando livros, escrevendo, dentre outras coisas sobre a periferia (mas não só). Isso tudo pode ser tematizado como questão, e explicado pelo que tem de interessante, necessário e problemático. A questão do essencialismo como essencial ao tema (desculpem o trocadilho), mas também como problema, quando acaba criando um regime compulsório, etc. Num texto escrito dificilmente essas questões seriam tocadas por exemplo, o que já é uma vantagem grande da forma entrevista. Eu iria depois fazendo as perguntas mais de conteúdo: a questão territorial/topológica, periferia x centro, pertinência ou não do termo periferia no Rio, quando surge a questão, talentos periféricos, a nossa constatação de que já existe uma segunda geração de autores discutindo o problema, enfim, poderemos ir temperando ao nosso gosto o texto, relação com a música, a cultura da favela etc., violência…

Propus ao Ettore e ele topou, mais do que isso: gostou da ideia. Proponho o seguinte método de trabalho se vocês toparem. Mando uma pergunta por escrito a vocês dois, vocês escolhem se apenas um vai responder ou os dois. Podemos adotar inicialmente a ideia de ambos responderem, salvo decisão em contrário. Vocês me mandam as respostas, eu vou juntando tudo em um documento só. Depois editamos isso juntos, mantemos as duas, mudamos a minha pergunta, fundimos se for o caso as respostas de vocês em uma (por medida de economia, para evitar repetições). Enfim, imagino que vamos aprendendo como fazer ao fazer. O que acham?

Fiquei animado inclusive por manter a chama da nossa excelente e produtiva parceria. Temos até outubro, mas acho que deveríamos atacar isso em julho, quando as aulas estiverem terminando ou terminadas. O que acham?

Um abraço,

C


Camillo não sabe disso, mas essa entrevista que ele propôs foi talvez o primeiro passo para um reencontro comigo mesmo, que vai me levar a uma guinada na linha de pesquisa.

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