Eu vim aqui prestar contas de muitos acertos
Aldir Blanc e Cristóvão Bastos – 50 anos
De erros sem fim
Eu tropecei tanto às tontas que acabei chegando
Ao fundo de mim
Não quero de modo nenhum dizer que a imaginação anuncia as futuras verdades e deveria estar no poder, mas sim que as verdades já são imaginações e a imaginação já está no poder desde sempre; ela, e não a realidade, a razão e o longo trabalho do negativo.
Paul Veyne: Os gregos acreditavam nos seus mitos?
LA BRIGE, stupéfait. Elle est bien bonne!… Il faut que je vous établisse comme quoi je suis M. La Brige, alors que vous avez été le premier à me reconnaître, pour m’avoir vu vingt fois, naguère, chez nos amis les Crottemouillaud ?
George Courteline: La lettre chargé
L’EMPLOYÉ. Je vous ai reconnu en tant qu’homme du monde; mais j’ignore qui vous êtes, en tant que fonctionnaire.
LA BRIGE. Certes, j’avais entendu parler des chinoiseries administratives; mais celle-ci…
L’EMPLOYÉ. Je suis employé de l’État; les règlements sont les règlements et je ne saurais les enfreindre sans risque.
Os sofistas gregos, ao que parece, haviam compreendido bastante profundamente que só a instituição — e não uma hipotética natureza — é capaz de dar corpo e existência ao que Platão e Aristóteles conceberão como “substâncias”: o indivíduo será social ou não será; é a sociedade, e suas convenções, que tornarão possível o fenômeno da individualidade. O que garante a identidade é e sempre foi um ato público: uma certidão de nascimento, uma carteira de identidade, os testemunhos concordantes do porteiro e dos vizinhos. A pessoa humana, concebida como singularidade, só é assim perceptível a ela mesma como “pessoa moral”, no sentido jurídico do termo: quer dizer, não como uma substância delimitável e definível, mas como uma entidade institucional que garante o estado civil, e apenas o estado civil. Isto quer dizer que a pessoa humana só existe no papel, em todos os sentidos da expressão: ela existe sim, mas “no papel”; só é perceptível, do exterior, como possibilidade mais ou menos plausível.
Clément Rosset: O real e seu duplo