Será preciso tato para dizer-lhe que, no ano da expropriação das poupanças promovidas pelo plano Collor, após seu primeiro casamento, os recursos financeiros para cumprir o último ano da FAHUPE ficariam escassos e buscaria uma transferência para a UERJ. Não lhe valeriam, infelizmente, os conselhos da Profa. Glória para que permanecesse, mesmo sem pagar as mensalidades, que já estava concluindo o curso, que já possuía condições para ingressar num mestrado, que…
Acabo de digitar no Google o “Professora Glória literatura Fahupe”. Encontro Glória Vianna em duas lives recentes no Youtube, por ocasião do lançamento de seu livro O exílio de Capitu, suas cartas e outras curiosidades. Encomendo. Faço contato no Instagram. Será que responderá à minha mensagem?
Será preciso tato para dizer-lhe que, na UERJ, seriam mais quatro anos para concluir o curso de graduação (durante os quais publicaria alguns poemas na coletânea Vida toda linguagem, da Oficina de Criação Literária Mário Faustino, comandada pelos professores Luiz Carlos Lima e Jorge Wanderley) e que depois, já no mestrado, na PUC-Rio, integraria o grupo de alunos fundadores da Revista Escrita (na qual publicaria uma série de poemas “O desencanto das ruas”) e viria a concluir a dissertação, que viraria livro, Literatura de subtração: a experiência urbana e literatura contemporânea – Rubem Fonseca, Caio Fernando Abreu e Chico Buarque.
Mesmo com todo tato, ele repara que seu desejo, na medida em que estava sendo realizado, era colocado entre parênteses, e já não se convence de que eu não o venho afogando há muitos anos. E talvez, não para consolá-lo, mas para justapor ao plano da verdade esse memorial, digo-lhe que há aqui, inevitavelmente, também muita ficção.